Há relação comprovada cientificamente entre os resultados educacionais de nossos alunos e as condições socioeconômicas em que vivem. Crianças expostas a ambientes pobres em estímulos cognitivos e inseridas em condições de vulnerabilidade, apresentam resultados educacionais abaixo da média esperada para a sua faixa etária.
Um estudo realizado com base em dados da população brasileira e publicado pela Universidade de Luxemburgo em 2015 intitulado “A pobreza e a Mente”, indica uma relação estreita e prejudicial entre a condição de pobreza infantil e os resultados educacionais dos jovens estudantes das escolas públicas brasileiras.
Na pesquisa os autores afirmam que “o nível socioeconômico foi fortemente associado às habilidades cognitivas das crianças, sendo responsável por mais de 30% da variabilidade nas funções executivas e mais de 50% da variabilidade na linguagem. Essas relações permaneceram estatisticamente significantes mesmo após terem sido controlados o status nutricional e emocional, bem como a saúde geral das crianças”.
Lamentavelmente essa situação está presente em todo o território brasileiro. Mesmo se tomarmos como exemplo o Estado mais rico do país, São Paulo, a realidade ainda assusta.
A desigualdade ao alcance de nosso olhar
A circunstância de pobreza e vulnerabilidade da população do Estado de São Paulo pode ser observada se analisarmos os últimos resultados publicados pela Fundação Seade sobre o cenário distributivo da parcela da população mais pobre do Estado.
Do total de 16,2 milhões de pessoas consideradas extremamente pobres no país, com renda per capita inferior a R$ 70, cerca de 1,1 milhão reside no Estado de São Paulo, o que representa 7,0% da população pobre do país, ou 2,6% da população paulista. No conjunto do país, 8,6% dos brasileiros vivem em extrema pobreza. (Disponível em: http://produtos.seade.gov.br/produtos/retratosdesp/view/index.php?indId=13&temaId=1&locId=1000)
Diante desse cenário, é preciso questionar com urgência os rumos da Educação Pública brasileira, como melhor financiá-la e como contribuir para a reversão desse panorama.
Mais financiamento para a Educação Pública
Não é segredo para ninguém que precisamos com urgência de mais investimento financeiro na Educação Pública brasileira. Alguns poucos pesquisadores, na maioria da área econômica, defendem que o volume financeiro aplicado é suficiente e que na verdade é gasto de forma errada. Afirmo aqui, sem receio, após anos de pesquisa e trabalho na área educacional, que precisamos sim de mais investimento em Educação Pública, mas também precisamos preparar melhor nossos gestores educacionais para o gasto dessa verba pública.
O ambiente escolar ainda é o lugar possível para a promoção de mudanças sociais, econômicas e humanas. Investimentos na formação dos professores, na manutenção escolar e na otimização dos recursos públicos são pontos fundamentais para impulsionar a roda da transformação que necessitamos.
Vivemos hoje no Brasil um momento de luta educacional marcado pela rediscussão política do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (FUNDEB), marco histórico na política de financiamento educacional no Brasil. De sua permanência, depende a Educação Pública; sua proposição estável, como política de Financiamento da Educação Básica, deve ser nosso foco.
Se informe e ajude a Educação Pública brasileira a não perder a única fonte de financiamento público que a mantém.
Todos juntos somos mais fortes!
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Roberta Bocchi
Atualmente é pesquisadora e estudiosa da área de Neurociência aplicada à Educação pela Faculdade de Ciências Medicas da Santa Casa de São Paulo. Trabalha como Supervisora de Ensino efetiva da Rede de Educação Básica do Estado de São Paulo, onde também desenvolve pesquisas na área de Financiamento Público Educacional, Gestão Escolar e Currículo.
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