Este texto propõe uma discussão breve sobre o ensino pautado em competências e habilidades, tendo como base a função cerebelar.
O cerebelo está localizado entre o cérebro e o tronco encefálico, conectado ao tálamo e à medula espinhal através de muitas fibras nervosas. O nome cerebelo deriva do latim e significa pequeno cérebro. As Competências e Habilidades estão sob a influência desse Senhor dos tempos: o Cerebelo.
O Ministério da Educação define competência como operações mentais estruturadas em rede que mobilizadas permitem a incorporação de novos conhecimentos e sua integração significada a esta rede. As habilidades decorrem das competências adquiridas e referem-se ao plano imediato do saber fazer.
Como exemplo, podemos pensar na ação de dirigir um carro. Para conseguir ser competente nessa ação, a pessoa precisou primeiro ser habilidoso em cada etapa do ato de conduzir um veículo, teve que aprender e exercitar o movimento motor, depois se apropriar do espaço interno e externo, das imagens ao redor do carro, do tempo correto de cada ação que muda de acordo com a realidade dinâmica e por vezes imprevisível e do treino de atenção e foco constante. Todas habilidades necessárias para que um sujeito se torne competente na ação de dirigir, automatizado a ponto de dirigir um carro por longo tempo, sem foco consciente em nenhuma das habilidades apreendidas anteriormente.
É comum encontrar pessoas que dirigem há muito tempo, conversando com o carona sentado ao seu lado tranquilamente enquanto dirige. Classificamos essas pessoas como motoristas “competentes”. Mas também é comum encontrar pessoas que interrompem essa conversa no momento de fazer uma manobra mais detalhada no carro, pois como a ação ainda não se automatizou, a pessoa precisa ter mais atenção na manobra, voltando para a conversa logo depois. Isso ocorre pela ação da manobra ainda não ter se tornado uma competência.
Todo esse movimento de aquisição das habilidades e competências que envolve o exemplo aqui citado, obedece uma sequência presente no Sistema Nervoso Central humano, que passa pelo córtex pré-frontal planejando a ação, seguido do córtex pré-motor elaborando uma sequência e por fim, o córtex-motor executando a ação. O cerebelo automatiza, corrige e organiza a execução dos movimentos, é o modo operante do circuito montado e treinado, é ele o responsável pelo que chamamos de “Competência”.
O cerebelo tem vários circuitos prontos para diversos movimentos humanos, com a capacidade vital ao homem de detectar erros, para então montar novos circuitos com a intenção de automatizar o circuito correto, que dará conta da intenção inicial do movimento.
No ambiente escolar, para que as habilidades trabalhadas no currículo componham de fato uma competência especifica, é preciso obedecer três etapas: intenção, detecção do erro e treino. Sendo a detecção do erro momento crucial para a aprendizagem, pois se o erro não for percebido e corrigido de imediato, poderá ser automatizado no circuito cerebelar de forma permanente.
No processo educacional, não só os momentos de acertos e sucessos devem ser exaltados como forma de melhorar o desempenho das aulas, mas os de erros também, como forma de corrigir os rumos do saber, tornando robustas as conexões neurais corretas e saudáveis para a aprendizagem de sucesso.
Conheça a diferença entre Competências e Habilidades clicando aqui.
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Roberta Bocchi
Atualmente é pesquisadora e estudiosa da área de Neurociência aplicada à Educação pela Faculdade de Ciências Medicas da Santa Casa de São Paulo. Trabalha como Supervisora de Ensino efetiva da Rede de Educação Básica do Estado de São Paulo, onde também desenvolve pesquisas na área de Financiamento Público Educacional, Gestão Escolar e Currículo.
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