Sem dúvida, a menos que você viva em alguma caverna, a tecnologia já faz parte de sua vida diária em definitivo e de forma crescente. E dentro das escolas isso não é diferente, o problema está no “crescente”. Nem todas as escolas possuem equipamentos adequados para acompanhar o ritmo frenético de crescimento tecnológico do mundo e nem mesmo os profissionais que trabalham nos ambientes educativos conseguem dar conta de tão rápido e amplo conhecimento específico.
É sabido que a tecnologia mudou a convivência humana, a própria escrita é considerada a primeira conquista tecnológica da humanidade. Na forma como entendemos a tecnologia hoje, distinguimos grandes avanços positivos e outros negativos.
Entre os positivos, podemos citar a facilidade de acesso às informações vindas de todas as partes do globo terrestre, com interatividade e temporalidade instantânea, além dos avanços na área da saúde, que permitiram o entendimento de diversas patologias e funções cognitivas humanas até então desconhecidas. Mas e na escola?
A escola é o local onde ocorre a “transmissão sistemática do saber historicamente acumulado pela sociedade, com o objetivo de formar os indivíduos, capacitando-os a participar como agentes na construção da sociedade” (RIOS, 2000, p. 34)2. Para que essa transmissão tenha sucesso, algumas metodologias específicas são utilizadas e algumas funções motoras e cognitivas são essenciais. E é nestes dois últimos pontos que estamos em perigo com a entrada desenfreada dessa nova tecnologia na vida de nossos alunos. Pediatras e Terapeutas do Serviço Nacional de Saúde da Inglaterra (Fundação
Heart of England, 2018) alertam que as crianças estão perdendo um dos principais movimentos físicos da evolução humana, o movimento de pinça. Foi o domínio desse movimento que permitiu ao homem sair da condição de vida entre os galhos das árvores para explorar a superfície da terra, com movimentos suaves dos dedos a procura de alimentos e demais descobertas que exigiam
movimentos precisos e pinçados.
Segundo o estudo desenvolvido pela Fundação Heart of England, “as crianças que estão indo à escola não têm mais a mesma força e destreza nas mãos como víamos há 10 anos atrás”, o que dificulta, por exemplo, a habilidade simples de segurar o lápis, por não terem praticado anteriormente esta ação. Um tempo considerável dessas crianças foi gasto com exposição excessiva a meios digitais, que não dependem desse movimento e sim apenas de um suave deslizar da ponta dos dedos. Logo, um movimento motor simples e fundamental para a vida humana foi prejudicado.
Diferente de outras áreas da sociedade, a escola, devido a sua especificidade e importância social/cultural, deve inserir sim em sua rotina pedagógica as novas tecnologias, porém, atentamente, tomando cuidado para não formar sujeitos alienados socialmente e prejudicados em suas funções motoras e cognitivas, fato que decretaria a falência dessa escola.
Vamos pensar primeiro em qual sujeito queremos formar em nossas escolas para depois pensarmos em qual tecnologia utilizar a serviço dessa formação?
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Roberta Bocchi
Atualmente é pesquisadora e estudiosa da área de Neurociência aplicada à Educação pela Faculdade de Ciências Medicas da Santa Casa de São Paulo. Trabalha como Supervisora de Ensino efetiva da Rede de Educação Básica do Estado de São Paulo, onde também desenvolve pesquisas na área de Financiamento Público Educacional, Gestão Escolar e Currículo.
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