Este texto “Como melhorar o desempenho das aulas” propõe uma reflexão sobre o CAQ (Custo Aluno Qualidade), trazendo para a discussão alguns autores que pesquisam um dos mais importantes temas para o financiamento da Educação Pública, ponto decisivo para a melhora de desempenho de alunos e professores em sala de aula. Afinal, há muito tempo alunos e professores pedem maior investimento na Educação Básica. Será isso possível?
Por força de Lei, o valor por aluno é fixado pelo governo federal, somando os recursos depositados nos fundos estaduais mais o que é complementado pela União, dividido pela soma das matrículas da Educação Básica constante no censo escolar. O que se questiona nas pesquisas sobre o CAQ é se esse cálculo basta, se para aliar custo e qualidade deve-se somente executar uma simples fórmula matemática, que inclui apenas um montante financeiro arrecadado e um número real de alunos.
Dentre os trabalhos acadêmicos pioneiros na área do custo aluno, segundo Oliveira (2006), destacam-se os estudos realizados pelo Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira) que discute a definição da alíquota do salário-educação nos anos 60.
A legislação brasileira expressa em vários momentos a questão do custo-aluno qualidade. A Constituição Federal de 1988 no Artigo 206 faz menção ao princípio de garantia do padrão mínimo de qualidade. No início dos anos 90, a proposta de estipular financeiramente o custo-aluno-qualidade aparece por ocasião do Fórum Permanente do Magistério da Educação Básica.
A LDB 9394/96 determina em seu inciso IX do Artigo 4º, “padrões mínimos de qualidade de ensino, definidos como a variedade e quantidade mínimas, por aluno, de insumos indispensáveis ao desenvolvimento do processo de ensino-aprendizagem”.
O Plano Nacional de Educação (Lei 10.172/02) reforça a proposta de padrões mínimos de qualidade, em sua meta de número 7 (sete) sobre o financiamento, orientando os orçamentos das três esferas governamentais a garantir padrões mínimos de qualidade de ensino, definidos nacionalmente. Mas é a partir das discussões promovidas pela Campanha Nacional pelo Direito à Educação (1999-2001), que se chega a uma proposta de CAQ, para todos os níveis e modalidades de ensino, divulgada em 2005.
Ednir e Bassi (2009), Pinto (2006), Robert Verhine e Ana Lúcia Magalhães (2006), entre outros, desenvolveram pesquisas a respeito do caminho percorrido para se chegar ao CAQ e diferenciar entre o que é realmente investido em Educação pelos órgãos governamentais e o que é estipulado pelo CAQ. Regina Vinhaes Gracindo (2009) chama atenção para a necessidade de elevação urgente do percentual do PIB (Produto Interno Bruto) aplicado em Educação.
Outros pesquisadores têm posição semelhante, defendem um aumento, pensando-se em 6% no PDE (Plano de Desenvolvimento da Educação), 7% como aponta o PNE, 10% como indicou a sociedade na primeira proposta do PNE, ou como prevê a proposta do CAQ de ampliar 1% para a matrícula atual ou de mais 4% para as metas do PNE.
Nesse contexto, e segundo a pesquisa do CAQ, as fontes públicas para o financiamento da educação no Brasil são estimadas em: 3% do PIB,decorrentes dos 18% dos impostos federais e 25% dos impostos
estaduais e municipais, acrescidos de 0,3% do PIB, decorrentes do salário-educação, perfazendo um total de 4% do PIB. Comparando esse percentual com os dos países da OCDE, cuja média é de 5,9% do PIB,
novamente percebe-se a distância existente. (GRACINDO, 2009, p. 94).
A seguir, é apresentado um quadro baseado em Ednir e Bassi (2009), que traduz a diferença do cálculo aluno-qualidade realizado pelos órgãos governamentais e o proposto pelo CAQ.
Quadro 01 – Diferença do cálculo aluno-qualidade realizado pelos órgãos governamentais e o proposto pelo CAQ
Como tem sido feito: procedimentos para se obter o valor de Gasto/Aluno. Parâmetro com base no qual se calculam os gastos com educação. |
Como queremos que seja os procedimentos para se obter o Custo-Aluno-Qualidade (CAQ). Parâmetros com base no qual deveriam ser calculados os gastos com Educação. |
1- Verifica-se o total das disponibilidades orçamentarias anuais (cujo volume pode diminuir, porque fica sujeito ao desempenho da economia e da arrecadação de impostos) 2- Divide-se essa quantia pelo número total de alunos matriculados |
1- Levantam-se todos os itens necessários (insumos: infraestrutura, tempo, formação dos profissionais…) para oferecer uma Educação de qualidade a crianças, adolescentes, jovens e adultos, mantendo e desenvolvendo os sistemas de ensino. 2- Somam-se os custos desses itens necessários por etapa da Educação Básica (educação infantil, ensino fundamental, ensino médio, educação de jovens e adultos) e por escola, no caso, a escola imaginada pelo estudo do CAQ, que tem um certo tamanho, um certo número de alunos por turma e outros itens pertinentes. 3- Dividem-se os custos por nível e depois pelo número de alunos previsto em cada escola. 4- É bom lembrar que há outros cálculos envolvidos. Aqui se faz um resumo básico, apenas para que a lógica seja entendida. |
Fonte: (EDNIR E BASSI, 2009, p.73)
PIB Investindo em Educação
No ano de 2012, iniciaram-se novas discussões a respeito do percentual do PIB investido em Educação. A Emenda Constitucional de nº 59, de 11 de novembro de 2009, determinara que no próximo PNE houvesse uma conjugação do PIB com a Educação.
Dessa forma, na Conae (Conferência Nacional de Educação) do ano de 2010, decidiu-se como meta, o investimento de 10% do PIB até 2020.
A Câmara Federal aprovou, no ano de 2012, uma meta de investimento público de 10% do PIB para a Educação pública, a ser atingida no prazo de dez anos. Seguindo para avaliação e votação do Senado Federal, mesmo após declarações como a do Ministro Mantega³
Claro que nós somos favoráveis ao aumento de investimento na educação. Hoje ele representa 5,1% do PIB, e vai para 7% conforme o programa que nós aprovamos”, explicou Mantega durante seminário promovido pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) e pelo Grupo de Líderes Empresariais (Lide). “Agora, passar para 10% de maneira intempestiva põe em risco as contas públicas. Isso vai quebrar o Estado brasileiro, então não vai beneficiar porque depois você vai ter que rever isso e não vai ter recursos pra educação.
(PORTAL TERRA4
– 04/07/2012)
Com o valor mínimo por aluno do Fundeb5, mais os repasses legais da União, considerando a diferença em porcentagem de investimento em Educação pública de cada Estado da Federação e municípios, somando os impostos próprios e ainda o salário educação, cada administração pública precisa dar conta qualitativamente de sua educação, ou pelo menos deveria. Nelson Cardoso Amaral (2012), ao escrever sobre o financiamento da Educação Básica no Brasil, indica que até 2050 teremos uma diminuição de 40% no número de crianças em idade escolar, colocando o Brasil, a longo prazo, em condição mais favorável, considerando a demanda escolar e financiamento público educacional:
Há, portanto, uma redução da população educacional em idade de 84,4 milhões em 2008 para 50,9 milhões em 2050, o que representa uma redução de 40%. Há uma importante queda de 44% em 2008 para 24% em 2050, do percentual da população brasileira em idade educacional em relação a população total brasileira. Esse fato justificaria uma queda natural na necessidade de financiamento como percentual do PIB, de 2020 para 2050. (AMARAL, 2012, p. 195)
Levando em consideração a afirmação de Amaral (2012) citada acima e a luta para aumento do PIB investido em Educação citada anteriormente, conclui-se que possa demorar muito a ocorrer ou que não aconteça, visto que para o futuro é prevista uma situação de mais conforto para as crianças que ingressarão nos primeiros níveis da Educação. Mas e as crianças de hoje, ficam condenadas ao prejuízo qualitativo educacional? Não serão elas, os pais dessas crianças de 2050?
Referências
AMARAL, N.C. Para compreender o financiamento da educação básica no Brasil. Brasília: Liber Livro, 2012.
GRACINDO, R.V. PNE e PDE: aproximações possíveis. In DOURADO, L.F. Políticas e gestão novos marcos regulatórios da educação no Brasil. São Paulo: Xamã, 2009.
OLIVEIRA, R.P. Financiamento da educação no Brasil: um estado da arte provisório e algumas questões de pesquisa. In: GOUVEIA, A B, SOUZA, A R e TAVARES, T M (orgs). Conversas sobre financiamento da educação no Brasil. Curitiba: UFPR, 2006.
PINTO, J.M.R. O custo aluno qualidade na legislação. In: GOUVEIA, A B, SOUZA, A R e TAVARES, T M (orgs). Conversas sobre financiamento da educação no Brasil. Curitiba: UFPR, 2006.
VERHINE, R.E. e MAGALHÃES, A.L.Custo-aluno-ano em escolas de qualidade: uma análise por contexto e oferta de ensino. In: GOUVEIA, A B, SOUZA, A R e TAVARES, T M (orgs). Conversas sobre financiamento da educação no Brasil. Curitiba: UFPR, 2006.
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Roberta Bocchi
Atualmente é pesquisadora e estudiosa da área de Neurociência aplicada à Educação pela Faculdade de Ciências Medicas da Santa Casa de São Paulo. Trabalha como Supervisora de Ensino efetiva da Rede de Educação Básica do Estado de São Paulo, onde também desenvolve pesquisas na área de Financiamento Público Educacional, Gestão Escolar e Currículo.
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