Este texto trata-se de um convite ao leitor curioso pela questão que envolve a melhora qualitativa do desempenho de alunos e professores em sala de aula. É o primeiro de uma série, que pretende tratar de assuntos relacionados ao cotidiano escolar. O objeto principal é a relação entre os novos conhecimentos da Neurociência e sua possível contribuição para uma Educação mais consciente dos caminhos da cognição humana.

Para iniciar essa reflexão, é necessário, mesmo que brevemente devido ao tipo de mídia utilizada, pontuar alguns conhecimentos chaves para a Neurociência e para a Educação. O quadro abaixo considera alguns autores de consenso nas duas áreas estudadas:

Quadro 01 – Comparativo conceitual entre Educação e Neurociência

Categorias Educação Neurociência
Definição Em âmbito escolar: “[…] transmissão sistemática do saber historicamente acumulado pela sociedade […] (RIOS, 2000. p.34). Conjunto das disciplinas que estudam, pelos mais variados métodos, o sistema nervoso e as relações entre as funções cerebrais e mentais. (LENT. 2018. p.3).
Campo de Pesquisa A cognição humana. O Sistema Nervoso Central humano.
Objetivo Em âmbito escolar: “[…] formar os indivíduos, capacitando-os a participar como agentes na construção da sociedade (RIOS. 2000. p.34). Buscar explicar como a cognição e a consciência humana nascem da atividade do cérebro. (LENT. 2018,p.2).
Aprendizagem Processo em espiral. “Ao ser produzido, o conhecimento novo supera outro que antes foi novo e se fez velho e se dispõe a ser ultrapassado por outro amanhã”. (FREIRE, 1996. P. 31). O aprendizado refere-se a uma mudança no comportamento que resulta da aquisição de conhecimento acerca do mundo, e a memória é o processo pelo qual esse conhecimento é codificado, armazenado e posteriormente evocado ( KANDEL, 2018. p.1256).
Sujeito A pessoa é um sujeito enquanto vive em relação  com um grupo este torna-se sujeito na medida em que se constitui por pessoas. Desse modo, pode-se falar em verdadeiro sujeito quando se fala de um coletivo de pessoas. (SILVA,1996, p.90). Um ser onde  mente e corpo são vistos como entidades unificadas, onde todo o comportamento é resultado da função encefálica. “Aquilo que costuma ser chamado de mente, é um conjunto de operações executadas pelo encéfalo” ( KANDEL, 2018 p.5).

Observando o Quadro 01, percebe-se que a Neurociência parece completar as aspirações da área educacional, trazendo à tona a possibilidade de entendimento das funções cerebrais e de como o conhecimento se dá nesse tão nobre órgão humano, o encéfalo.

Dentre as possíveis comparações que o Quadro 01 possibilita, ao comparar conceitualmente a palavra aprendizagem, entende-se que a principal ideia salientada é a memória, enquanto possibilidade de armazenamento de conhecimento, que quando evocado por outro mais recente, é ampliado. Um processo de mudança de comportamento baseado em uma aprendizagem em espiral, é sem dúvida, o sonho de todo professor. Mas como conseguir isso?

Inicialmente, é preciso uma escuta cuidadosa do aluno, entendendo seu universo conceitual, suas aspirações e interesses imediatos, para só então propor um mergulho em um novo mundo, com novos conhecimentos que sejam capazes de dar continuidade aos já armazenados na memória do educando. Esse processo precisará ainda ter sentido ao aluno e ao professor, caminhar ao lado dos aspectos emocionais que envolvem o conhecimento a ser trabalhado e ampliado, caso contrário, não se consolidará na memória e não se tornará aprendizagem.

Para que esse tipo de aprendizagem tenha espaço no cotidiano escolar, é preciso direcionar o olhar docente para novas metodologias educacionais, revendo velhas práticas docentes que apenas provocam respostas mecânicas do educando, onde as regiões do córtex cerebral nem mesmo são sensibilizadas significativamente.

Uma pesquisa do psiquiatra americano William Glasser (2001) sobre como as pessoas aprendem, mostra o quanto é preciso investir em novas maneiras de ensinar. De acordo com seus estudos, os alunos aprendem da seguinte forma:

  • 10% lendo;
  • 20% escrevendo;
  • 50% observando e escutando;
  • 70% discutindo com outras pessoas;
  • 80% praticando;
  • 95% ensinando.

Considerando os aspectos levantados no Quadro 01 e comparando-os com as observações de Glasser (2001), percebe-se que em momentos onde há possibilidade de um novo conhecimento se apresentar com sentido ao aluno, com envolvimento emocional e tendo a necessidade de evocação de conhecimentos anteriores para a construção de novos, a aprendizagem se mostra mais eficiente. Fica evidente então que, para melhorar o desempenho das aulas, é fundamental buscar explicações de como a cognição e a consciência humana nascem da atividade do cérebro, para então, adequar as práticas docentes a esse novo mundo que se revela.

A Neurociência representa a possibilidade de entendimento dessa nova maneira de ensinar, não como uma ciência dona da verdade absoluta, mas como capaz de desvendar alguns caminhos do sistema nervoso central ainda não considerados por outras ciências que estudam o comportamento humano.

Referências
FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996. GLASSER, H.M.D. Teoria da Escolha uma Nova Psicologia de Liberdade Pessoal.
São Paulo: Mercuryo, 2001.
KANDEL, E.R. Princípios de neurociência. Porto Alegre: AMGH, 2014.
LENT, R. Neurociência da mente e do comportamento. Rio de Janeiro: Koogan, 2018.

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