Sempre me fazem uma pergunta ao final de uma palestra ou mesmo durante uma apresentação ou conversa onde o tema seja Educação: o que fazer com a indisciplina em sala de aula?
Após observar e pensar um pouco, costumo responder com uma outra pergunta: você sabe como o aluno aprende?
Quase sempre a pessoa que perguntou me olha com uma expressão confusa e de estranhamento, fora as vezes em que simplesmente se afasta pensando talvez que eu não tenha entendido a pergunta inicial. Mas na verdade, entendi muito bem!
Este texto pretende propor uma reflexão sobre a primeira pergunta, aclarando brevemente sobre como o aluno aprende, pois se quem ensina não compreender os caminhos do ensinado, não conseguirá fazer essa caminhada de mão dupla e jamais chegará ao seu objetivo, que deve ser o de permitir que o outro adquira um novo conhecimento.
Quanto ao problema da indisciplina, ao incluir o outro na curiosidade pedagógica provocada pela certeza de que é possível aprender, de que aquele conhecimento faz sentido, será em grande parte solucionada com sucesso.
Para escrever um pouco sobre como ocorre a aprendizagem, vou buscar alguns estudos desenvolvidos pela Neurociência e suas descobertas sobre o Sistema Nervoso Central.
Lent (2018) define a Neurociência como um conjunto das disciplinas que estudam, pelos mais variados métodos, o Sistema Nervoso e as relações entre as funções cerebrais e mentais. Essa ciência é relativamente recente, teve um grande impulso com os estudos de neuroimagem funcional humana da cognição, combinados com as principais descobertas da anatomia nos últimos 25 anos, que contribuíram
significativamente para as descobertas recentes sobre as conexões complexas existentes no encéfalo humano, envolvidas na maior parte do tempo com a cognição.
O principal responsável pelo sistema de condução das informações para todo o corpo humano e no caso da aprendizagem, para o Sistema Nervoso Central, é este interessante neurônio aqui representado. Temos no corpo mais de 100 bilhões de células nervosas individuais parecidas com estas, interconectadas em sistemas chamados de circuitos neurais. São eles os responsáveis pela condução sensorial, pela percepção do mundo externo, pela atenção e pelo controle sistêmico da vida biológica humana. Dessa forma, entender como tudo isso ocorre é fundamental para a área educacional.
Para que uma informação complete seu circuito neural, faça o que chamamos de conexões sinápticas e se transforme em conhecimento, é preciso que haja no processo o envolvimento da emoção e da memória, criando um processo em espiral:
- Ao receber uma informação nova, ela é comparada aos padrões já existentes e se tiver significado, formará nova conexão neural, novas possibilidades de combinações desses padrões;
- É então armazenada na memória e pode ser acessada quando necessário;
- Ao acessar essas memórias e combinar novamente, ampliamos o entendimento, ampliamos a aprendizagem de um padrão já existente.
A aprendizagem tem início com uma informação que entra pelos sentidos e é processada pelo Sistema Nervoso Central, produzindo uma resposta, que pode ser motora ou emocional – com sentido para o sujeito – então dizemos que houve aprendizagem.
Qual será então a pergunta que cada educador deve se fazer?
- Como melhorar a indisciplina na escola?
Ou
- Como o aluno aprende?
Livro citado: LENT, R. Neurociência da mente e do comportamento. Rio de Janeiro: Koogan, 2018.
Deixe o seu comentário!
[sc name=”palestra”]
Cadastre para receber todas as Novidades
Roberta Bocchi
Atualmente é pesquisadora e estudiosa da área de Neurociência aplicada à Educação pela Faculdade de Ciências Medicas da Santa Casa de São Paulo. Trabalha como Supervisora de Ensino efetiva da Rede de Educação Básica do Estado de São Paulo, onde também desenvolve pesquisas na área de Financiamento Público Educacional, Gestão Escolar e Currículo.
Categorias
- Cotidiano (43)
- Currículo Educacional (3)
- Destaque (83)
- Financiamento Educacional (6)
- Gestão do tempo escolar (7)
- Neurociência e Educação (28)