Neurociência e Educação: Como limitar a visão de mundo de uma geração inteira

Caro leitor, não se assuste com o título deste artigo, não se trata de uma receita perversa, ou de um devaneio noturno, mas de um caminhar possível e real, que pode estar assombrando a Educação.

Não vou falar aqui diretamente em como melhorar a indisciplina na escola ou como melhorar o desempenho das aulas, mas sim, em como não condenar essa escola e essa aula à inutilidade funcional e social.

As pesquisas desenvolvidas pela Neurociência nos mostram um universo de possibilidades nas conexões neurais do cérebro humano. Quanto maior e diverso for a natureza do estímulo, maiores as possibilidades de conexões neurais e mais amplo o conhecimento humano. Teremos então a popularmente chamada “pessoa inteligente”.

Mas será que estamos possibilitando essa inteligência?

Para explicar melhor essa temática, farei um paralelo com algo diário em nossas vidas: o ato de cozinhar. Quando aprendemos a preparar um arroz, o fazemos primeiro lendo uma receita ou lembrando do ensinamento de alguém, para depois, fazermos automaticamente, como um procedimento simples, fruto de uma ação diária.

Neste caso, há no cérebro do cozinheiro uma conexão neural robusta por ser muito usada e já registrada enquanto um padrão de “arroz”. Se nada mudar, este padrão único estará presente no dia a dia do cozinheiro durante toda a sua vida e ele será incapaz de enxergar outras possibilidades de arroz, mesmo quando ninguém mais aguentar comer o seu mesmíssimo arroz. Outras conexões neurais possíveis, por falta de estímulo e acesso, cairão no esquecimento.

Se esse mesmo cozinheiro for estimulado a preparar outro tipo de arroz, com combinações diferenciadas, sabores inusitados para públicos e fins diversos, estará ampliando seu entendimento de “arroz”, estará construindo novas conexões neurais, ampliando sua visão não só do ato de cozinhar, mas também, sua visão de mundo. Estará permitindo a plasticidade neural de seu cérebro, ampliando sua inteligência.

Onde arroz se conecta com Educação?

Na Educação não é diferente, quando aprendemos um determinado conteúdo e não temos a possibilidade de ampliá-lo, limitamos nosso conhecimento sobre o assunto e sobre o mundo que o rodeia.

Ao impedir que um conteúdo seja abordado pelas mais variadas áreas do conhecimento, estamos deixando robusta uma única via de aprendizagem, uma única conexão neural, que de tanto ser usada, se torna um procedimento automático, impedindo a ampliação da realidade e limitando a visão de mundo do sujeito aprendiz.

Em um mundo onde a aprendizagem não se amplia, onde as conexões neurais se tornam robustas em uma única via, há a possibilidade de todos começarem a pensar de forma idêntica, como uma massa cega e conduzida por uma única visão de mundo, que ignora o diferente, banindo-o da sociedade, rotulando-o e excluindo-o do convívio social.

Já pensou comer o mesmo arroz por uma vida inteira sem nunca experimentar o prazer de um belo risoto?

Já pensou aprender que a terra é plana e permanecer com esse mesmo entendimento de geração em geração?

Já imaginou se a humanidade reconhece apenas um determinado padrão humano e passa a rejeitar qualquer outra possibilidade, eliminando-a?  E se você não se enquadrar nesse padrão?

A presença da dúvida e do contraditório é saudável para o bom desenvolvimento cerebral. É no contato com o diferente, com o problema e com a reflexão ampla sobre ele que ampliamos nossas conexões neurais, que adquirimos novos conhecimentos e nos aproximamos com mais discernimento e “inteligência” da condição humana.

 

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