Contar nos dedos pode representar um recurso válido quando o assunto é o ensino da matemática. Essa prática foi validada pela Neurociência para adquirir as representações numéricas básicas.
Há tempos atrás, quando uma criança usava os dedos para contar e resolver uma operação matemática era vista como uma criança com dificuldades para aprender. Hoje, após os estudos desenvolvidos pela Neurociência, esse método tem sido visto como uma etapa importante na aquisição e compreensão da linguagem numérica.
Será que nosso cérebro nasce pronto para os números?
Há comprovação científica de que os bebês novos demais para falar, já usam a razão e fazem deduções racionais. A matemática está presente em nossas vidas desde nosso nascimento, ela é fundamental para nossa sobrevivência. Quando caminhamos, sentamos em uma cadeira, pulamos um obstáculo, ou nos movimentamos naturalmente durante o dia, estamos na verdade fazendo cálculos mentais inconscientes sobre as distâncias, peso/massa e visão dos obstáculos.
Sem esses cálculos, provavelmente não conseguiríamos resolver nenhuma dessas questões. O que aprendemos durante a vida é a representação numérica dessas operações matemáticas, sua aplicação técnica e a possibilidade de realizar cálculos mais elaborados e precisos.
Como no caso da leitura e da escrita, o cérebro não nasce pronto para os números, há um rearranjo neural em diferentes regiões do sistema nervoso central para possibilitar o desenvolvimento de recursos e conexões necessárias para adquirir e compreender a linguagem matemática.
Estudos de neuroimagem identificaram e mapearam as principais regiões cerebrais envolvidas no processo de operações aritméticas básicas, são áreas distintas, porém, integradas. A primeira, chamada de região parietal, é responsável pela estimativa numérica e a segunda, intitulada de córtex pré-frontal, estabelece as relações entre os números.
Ambas precisam de estímulos externos e treino para seu desenvolvimento pleno, respeitando três princípios educacionais básicos: entender, fazer e praticar.
Para que esses princípios sejam respeitados, algumas dicas podem ser úteis.
Sugestões para tornar as aulas de matemática mais atrativas
• Use exemplos do cotidiano dos alunos para mostrar que a matemática serve para resolver problemas dos mais simples aos mais complexos;
• Explique, reexplique e revise quantas vezes forem necessárias;
• Parta primeiro do exemplo concreto para depois seguir para o abstrato;
• Abra espaço na aula para o uso de celulares, computadores e calculadoras, com fim pedagógico e na medida certa;
• Estimule sempre a metacognição das crianças, perguntando ao final de cada resolução matemática como chegaram ao resultado. Isso permitirá que o cérebro perceba e memorize o processo e não apenas o resultado;
• Intervenha de imediato ao detectar o erro. Essa ação é fundamental para que esse equívoco não se torne um procedimento automatizado pelo sistema nervoso central de forma errada;
• Aplique avaliações diagnósticas constantes para corrigir rumos e retomar o processo de ensino/aprendizagem. A correção em grupo, com o cuidado de explicar o processo e verificar se todos acompanharam o raciocínio é essencial.
Entender o funcionamento do cérebro dos alunos é eficaz para o sucesso educacional. Construir pontes entre a pesquisa científica e a sala de aula é um caminho urgente a ser trilhado pela Educação brasileira.
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Roberta Bocchi
Atualmente é pesquisadora e estudiosa da área de Neurociência aplicada à Educação pela Faculdade de Ciências Medicas da Santa Casa de São Paulo. Trabalha como Supervisora de Ensino efetiva da Rede de Educação Básica do Estado de São Paulo, onde também desenvolve pesquisas na área de Financiamento Público Educacional, Gestão Escolar e Currículo.
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