Alguns sábios tentaram avisar que a humanidade estava sentada em uma bomba, mas muitos, preocupados como a correria da vida moderna, não conseguiram ouvir.
Os cientistas já haviam dito que uma pandemia estava a caminho, era apenas uma questão de tempo, mas os olhos de muitos não quiseram ver. Os cientistas publicaram gráficos resultantes de suas exaustivas pesquisas que mostravam claramente o sucateamento dos sistemas públicos de saúde de várias regiões do mundo, inclusive do Brasil, mas os olhos de muitos não quiseram ver. Por fim, um grupo considerável de fabricantes brasileiros alertaram sobre o perigo de importar mais insumos hospitalares e de utilização medicamentosa da China, ao invés de produzi-los no país, mas os olhos de muitos não quiseram ver.
Agora, que tudo explodiu, aqueles que não quiseram ver ainda teimam em gritar que os aspectos financeiros são mais importantes que a saúde humana, mas nesse momento parece que estamos começando a ficar desconfiados desses supostos cegos. Será que eles querem a saúde de todos nós ou apenas manterem o acúmulo de seus montantes financeiros?
O que nos resta agora é se isolar socialmente, visto que a pandemia chegou ao Brasil, o sistema público de saúde não estava preparado e não podemos contar tão cedo com grandes quantidades de insumos hospitalares e medicamentosos fabricados na China.
É claro que a ideia principal por trás da decisão sobre o isolamento social é evitar o aumento do número de contaminados, doentes graves e possíveis mortes, diante do aparecimento do COVID- 19. O mais importante é salvar vidas, independentemente de partidos políticos, ideologias ou posições sociais, trata-se de um problema de saúde pública planetário.
No Brasil o cenário não é diferente, precisamos salvar o maior número de vidas possíveis e se não respeitarmos o isolamento social, teremos o colapso dos sistemas de saúde público e privado do país, chegando ao ponto de ter que escolher quem deve morrer e quem deve viver.
Mas como chegamos a esse ponto?
A saúde pública há tempos vem sendo deixada de lado pelos governos de vários países, incluindo o Brasil. A falta de leitos de UTIs e a “escolha” de quem os usará, é praticada silenciosamente em alguns hospitais brasileiros há tempos. Imagine agora com o aumento inesperado da demanda.
Outro ponto primordial dessa questão é a qualidade de vida de nosso povo. Má alimentação, sedentarismo e stress crônico fazem parte, cada vez com maior força, do cotidiano do povo brasileiro, levando a males que agora se tornam fatores de risco para o COVID-19, como a maioria das diabetes, hipertensão arterial, obesidade e patologias cardíacas.
O incentivo ao consumo de alimentos ricos em gorduras nocivas ao organismo humano, com açucares em excesso, glutens a perder de vista e frituras mascaradas como guloseimas crocantes, resultou em um empobrecimento da condição física e mental humana, comprometendo o sistema imunológico da grande massa populacional. Junta-se a essa situação, ciclos de sonos incompletos e más condições habitacionais e pronto, está preparada a receita perfeita para a instalação de patologias diversas.
E não se iluda pensando que você está a salvo desse panorama, vivemos em sociedade, somos interdependentes e um vírus não tem partido político, não poupa carinha bonita ou condição financeira. Ele chegou para azucrinar o movimento crescente e agressivo de acúmulo de capital, que o ignorou por tanto tempo, menosprezando seu poder de destruição e o escondendo atrás de possíveis ganhos financeiros.
Junto com a pandemia, descortina-se um cenário até então nebuloso, de pobreza absoluta e desamparo dos mais necessitados. Alguns não morrerão pela contaminação e possível quadro imunológico prejudicado, mas sim, simplesmente pela fome.
E agora, o que podemos fazer?
A primeira ação urgente é cuidar daquele que está próximo de você. Se for fome, doe comida, se for crises de ansiedade ou solidão, converse, mesmo que online e se estiverem todos bem, apenas assustados e isolados socialmente, continue distante.
Ao praticar o isolamento social conseguimos retardar um pouco o crescimento de pessoas contaminadas e damos um tempo maior para que o sistema de saúde brasileiro se organize basicamente para receber um número grande de doentes, que em alguns casos, precisarão de UTIs. Pode ser você, um amigo ou amiga, ou alguém de sua família. Se isolar socialmente pode poupar a vida de todos eles e a sua também.
Outra ideia equivocada que corre entre as pessoas de melhores condições financeiras é a de que os planos de saúde privados darão conta de atendê-los. Sinto muito em falar que talvez não seja bem assim. Lembre-se que as pessoas continuam ficando doentes por outras causas e que também uma parcela dessa população continua ocupando leitos de UTIs, que precisam de requisição especial e autorização do convênio para serem ocupados.
Boas notícias
Nunca antes o potencial da pesquisa científica foi tão falado e reconhecido. E temos sim no Brasil excelentes pesquisadores nas nossas Universidades Públicas e em algumas Universidades Privadas, que lutam com o pouco orçamento e a falta de incentivo político e social para desenvolverem pesquisas de ponta, nas mais variadas áreas. Apesar das tentativas de boicotes recentes, são eles que podem acender uma luz no final desse túnel sombrio.
A Nota Técnica 19/2020 da ANVISA orienta pesquisadores e médicos sobre o uso de plasma convalescente como procedimento experimental no combate ao Covid-19. Trata-se da parte líquida do sangue coletada de pacientes que se recuperaram da infecção pelo novo coronavírus. Espera-se que esse material ajude a combater a infecção viral em pacientes mais graves por meio de seus anticorpos.
Pesquisas sobre possíveis vacinas também estão ocorrendo em parceria com Universidades do mundo todo, como também o desenvolvimento de medicamentos eficazes. Mas como os procedimentos ainda estão no início, precisamos ganhar tempo e isso depende de retardarmos o maior número de contaminações, para que haja espaço de tratamento e menos perdas humanas.
Por fim, não podemos nos perder em discussões que apenas representem um bater de cabeças sem sentido, baseadas em achismos tendenciosos e longe de comprovações científicas, que relativizam a vida humana e priorizam os interesses econômicos dos mais ricos em detrimento da maioria da sociedade, onde você e eu nos encontramos hoje.
Em artigo publicado no informativo “Entre a Gente – Edição 368” da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo (disponível Clicando Aqui! o Professor Doutor Titular de Hematologia e Oncologia Carlos Chiattone, chama a atenção para os cuidados que devemos ter ao abordar de forma ampla e com intenção formativa a questão da pandemia de coronavírus. No texto o Professor salienta os seguintes cuidados:
1 – Procure identificar a fonte. Com isso, você pode eventualmente considerar que há algum interesse subliminar na veiculação;
2- Procure ver a data da primeira publicação do post ou artigo. Isso é FUNDAMENTAL pois os conceitos têm mudado constantemente à luz de novos dados;
3- Esta não é uma questão de estar de um lado ou de outro. Amolde sua opinião com a cabeça e não com o fígado. Não análise os fatos com viés ideológico;
4 – Os dois aspectos, médico e econômico, são obviamente muito relevantes. Eles têm que andar juntos, embora, provavelmente com velocidades diferentes;
5 – Tenha humildade e bom senso para eventualmente, no meio do caminho, mudar de opinião. Este assunto tem uma relevância que não nos permite os caprichos das vaidades e egocentrismos. (CARLOS CHIATTONE é Professor Titular de Hematologia e Oncologia da FCM da Santa Casa –SP)
Refletir sobre como será o mundo depois dessa pandemia é urgente e necessário. A mudança de hábitos sociais acompanhada do surgimento de novas formas de comunicação, comércio e valores humanos, trarão ingredientes fundamentais para a mudança.
Fique atento, é na ocasião do aperto que conhecemos as pessoas e o mundo ao nosso redor. É chegada a hora de exercitar a HUMANIDADE.
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Roberta Bocchi
Atualmente é pesquisadora e estudiosa da área de Neurociência aplicada à Educação pela Faculdade de Ciências Medicas da Santa Casa de São Paulo. Trabalha como Supervisora de Ensino efetiva da Rede de Educação Básica do Estado de São Paulo, onde também desenvolve pesquisas na área de Financiamento Público Educacional, Gestão Escolar e Currículo.
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