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Nós humanos temos comportamentos intencionais sem que nossa consciência tenha tempo de atuação e direcionamento consciente. Isso não significa que somos assim o tempo todo, também apresentamos comportamentos intencionais e conscientes, na maior parte do tempo os dois movimentos convivem muito bem, cada um ao seu tempo e espaço.
Alguns comportamentos são seguidos de movimentos reflexos ou voluntários. No caso dos reflexos, se referem a respostas reflexas do corpo a estímulos sensoriais não treinados, quase próprios da natureza humana. Já os voluntários, dependem da concordância do indivíduo para acontecerem, nem sempre são controlados pela consciência, mas precisam de sua “permissão”.
Cada indivíduo, considerando seu histórico de vida, suas memórias e sua aprendizagem, é capaz de montar mentalmente circuitos padrões, que são acionados em resposta a situações diversas, formando um repertório comportamental específico para cada situação. Sabe aquela pessoa que você já sabe como vai reagir em determinadas situações e quando você percebe, ela repetiu novamente aquele comportamento que você já esperava? Então, ela reage de uma forma padrão, acionando circuitos neurais já prontos, conscientes, porém, sem grandes novidades comportamentais. É ele (a) sendo ele (a).
Para mudar é preciso querer
Diante dessa temática, abro espaço hoje para oito dicas incríveis publicadas pelo Instituto Conectomus[1] intituladas “8 lições da Neurociência que vão ajudar você na mudança de comportamento”.
Vamos tentar?
1- Mudar comportamento é possível, mas nem sempre é fácil
Parta deste pressuposto. Mudar não é tão simples, segundo a Neurociência, ciência que estuda o sistema nervoso, o cérebro humano funciona melhor e mais rápido cultivando padrões e comportamentos já estabelecidos, pois fugir destes padrões despende maior energia e esforço. Por isso, mudar um comportamento que já está solidificado e automatizado no cérebro não é tão simples. Mas é, sim, possível.
2 – Cérebro é maleável e sempre pronto a aprender
Nosso cérebro é dotado de neuroplasticidade, ou seja, está sempre pronto a aprender coisas novas e adquirir novos hábitos, além de enfraquecer os antigos. Isso significa dizer que o cérebro é flexível e mutável, embora alguns indivíduos sejam mais resistentes que outros à mudança. Cada vez que o cérebro instaura uma nova conexão e a fortalece para aumentar o domínio de uma habilidade, ele enfraquece outras conexões que não foram utilizadas nesse momento, o que faz, com o tempo, enfraquecer velhos hábitos.
3 – Repetir é a chave para alterar comportamento
Repetir, repetir, repetir. Os hábitos existem para facilitar o cotidiano, não conseguiríamos fazer tanta coisa durante um dia se fosse preciso pensar sobre cada uma das ações. Se a cada passo, palavra ou movimento corporal, tivéssemos que pensar, seria impossível realizar tantas atividades diariamente. Hábitos são sequências aprendidas depois de muita repetição. E, depois que se tornam hábitos, passam a ser executadas sem esforço mental. Para mudar um comportamento, é preciso transformá-lo em hábito, repetindo-o até que esteja automatizado e incorporado, o que leva tempo e esforço mental.
4- Transformar comportamento envolve desejo
O comportamento é a expressão de diversos fatores que envolvem nossas memórias, vivências e valores e ele vira um hábito quando conversa com a nossa história pessoal e desejos. Quanto mais distante dos nossos valores, memórias e desejos, mais difícil desenvolver o novo hábito, mais tempo isso pode levar. Para mudar é preciso querer, por isso, não dá para ninguém querer mudar o outro, auxiliar a mudança, incentivar e orientar sim, mas desde que haja o desejo da pessoa de mudar. Induzir a pessoa a concentrar atenção, a focar em ideias e ações específicas, a persistir pode ser de grande valia. Vale ressaltar que a mudança de comportamento só se torna permanente se o cérebro julgá-la fascinante ou importante.
5 – Identificar a necessidade que o comportamento sacia
Para mudar um hábito indesejado, é preciso identificar a necessidade que ele sacia. Às vezes, o ataque à geladeira antes de dormir não é fome, mas ansiedade com a programação do dia seguinte, a agressividade com os colegas do trabalho nas reuniões pode ser necessidade de autoafirmação em um ambiente competitivo. Para abandonar um hábito ruim, é preciso diagnosticar o que leva a pessoa a ele e enxergar maneiras de saciar tal necessidade de outra forma.
6 – Descobrir gatilho do velho hábito
Descobrir quais são os gatilhos que o levam ao velho hábito – seja ele comer demais, fumar, desistir do exercício, não se posicionar, agir com agressividade – é de extrema importância para evitá-lo. Evitar os gatilhos já é meio caminho andado para afastar o hábito indesejado. Por exemplo, se tomar café gera vontade de fumar, é melhor retirar o café. Se entrar em mídias sociais faz perder muito tempo e o foco, o interessante é nem checá-las para evitar o risco. O cérebro estará a todo tempo ali querendo retornar ao velho hábito até que o novo tenha se estabelecido de fato.
7 – Estabelecer pequenas metas e grandes recompensas
Estabelecer metas pequenas para atingir uma grande mudança de hábito é essencial. Fracionar um grande desafio em pequenos que levem ao maior. E comemorar a cada vitória. Nosso cérebro é, em grande parte, movido pela emoção. E desanima quando vê que atingir o objetivo está muito longe. Ao alcançar as pequenas metas, ativa-se o sistema de recompensa, liberando dopamina no organismo e provocando prazer. A sensação prazerosa de que está conseguindo superar o velho hábito, dá autoconfiança e ânimo para levar adiante a transformação. Cérebro prefere recompensas de curto prazo.
8 – Transformar comportamento não tem tempo certo
O tempo da mudança de hábito vai depender do quão arraigado o comportamento está na pessoa e do quanto ela deseja, de verdade, mudá-lo. Um pouco mais para frente, a mudança começa a incomodar, a abstinência do hábito começa a pesar, o cortisol – hormônio do estresse – é liberado causando irritação, e nos sentimos sobrecarregados tendo que pensar nesse novo hábito a toda hora. Se não houver persistência, essa é a hora que perdemos todo o trabalho. Manter a motivação em alta e a satisfação de estar conseguindo cumprir as metas é fundamental para o sucesso.
9 – Alinhar mudança às emoções
Nem sempre a vontade consciente é suficiente diante da vontade do cérebro de retornar a seus padrões automáticos. Por isso, é preciso alinhar a mudança de hábitos às emoções, transformá-la em algo com apelo emocional, alinhada aos valores, desejos e anseios da pessoa que vivencia a transformação. Racionalizar demais não ajuda nos momentos em que a emoção toma conta e aí há o risco de retornar aos velhos padrões ou cometer deslizes, voltando a agir no automático. Racionalizar é importante para estabelecer as metas e o foco para “enganar” o seu cérebro com recompensas emocionais para que ele se mantenha no curso da mudança! Mudar é possível, seja qual for o hábito a ser modificado, mas desde que haja o desejo de mudar, a persistência e que o novo hábito esteja alinhado às emoções.
Lembre-se: comportamento é emoção, por isso, estejam sempre atentos aos gatilhos que conduzem seu modo de ser e estar no mundo.
[1] Disponível em: http://www.institutoconectomus.com.br/voce-ja-identificou-algum-comportamento-que-nao-lhe-fazia-bem-e-tentou-mudar/?utm_campaign=neuronews_-100421&utm_medium=email&utm_source=RD+Station
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Roberta Bocchi
Atualmente é pesquisadora e estudiosa da área de Neurociência aplicada à Educação pela Faculdade de Ciências Medicas da Santa Casa de São Paulo. Trabalha como Supervisora de Ensino efetiva da Rede de Educação Básica do Estado de São Paulo, onde também desenvolve pesquisas na área de Financiamento Público Educacional, Gestão Escolar e Currículo.
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